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21 setembro, 2013

Gostoso como um Abraço?

Por Maria Rita Casagrande para as Blogueiras Negras
Feche os olhos e imagine por um minuto:
Então você, negra, de black e linda acorda em um belo domingo e decide ir até o shopping, como você tem uma filha/o e como crianças de qualquer idade, tamanho, cor de pele (sim, pasmem, as negras também) usam e perdem muitas roupas você entra em uma loja cujo slogan remete a um carinho para fazer compras. Sua filha/o passa mal e vomita dentro da loja. Até aqui tudo comum na vida de QUALQUER mãe, quem nunca passou por uma situação do tipo que atire a primeira pedra. A situação começa a ficar incomum no pior sentido da palavra, quando a vendedora te traz um balde e um pano e te coloca para limpar a loja ‘Por gentileza, a senhora limpe essa sujeira da loja‘. No susto e no desespero, porque ter sua filha/o sem roupa, passando mal, exposta ao ar condicionado é uma situação desesperadora, você executa a tarefa enquanto vendedores e clientes observam sua atividade.
Consegue imaginar esta situação acontecendo? Agora mude um pouquinho os detalhes e altere esta mãe para alguém de pele branca. Foi mais difícil enxergar agora? Doeu mais o frio da criança ou o constrangimento da mãe?
O caso ocorrido na loja Malwee do shopping Interlagos chegou a público depois que a mãe em questão publicou seu desabafo nas redes sociais. Eu acompanhei o caso com olhos bem atentos não apenas porque eu considerei de um racismo inacreditável (sim sou da opinião que se esta mãe fosse branca a vassouraJAMAIS lhe seria apresentada e também porque não acho que o racismo no Brasil esteja de mãos dadas com o Papai Noel, o Coelho da Páscoa e o Saci, portanto ele existe e se materializa diante dos nossos olhos sempre que há uma brecha), foi também de um despreparo e falta de tato e empatia das vendedoras da loja, que poderiam ao menos ter oferecido um copo de água para esta criança, chamado socorro ou acionado o serviço de limpeza. Responsabilidade das vendedoras? Sim sem duvida, algumas coisas a gente traz no coração e ponto final. Mas e a Malwee? Até onde eu sei, vendedores passam por treinamentos, aprendem sobre as atividades da loja, sobre respeito e ética. Me pergunto: que treinamento as moças envolvidas receberam uma vez que a própria Malwee apresenta uma nota que mais parece um atestado de descaso na mesma rede social que a mãe apresentou o seu caso e como ele foi muito criticado na própria página da marca exigia um “cala boca”.
malwee
Só isso, Malwee? Claro que não. No dia 09 de setembro esteve na residência desta mãe uma representante da marca que repetiu o que foi publicado na nota, pediu desculpas e “presenteou” a família com 4 sacolas com itens da loja. Vamos recapitular: está mãe não comprou uma camiseta estragada para que fosse substituída por uma nova e, como pedido de desculpas, recebeu sacolas com itens da loja pelo transtorno, esta mãe foi humilhada, não só a mãe, mas a criança também, assistir sua mãe “levando uma bronca” por causa de um acidente que te envolve não é como um passeio no parque.
O que passou pela cabeça desta assessoria para entregar brindes a esta família, como um indivíduo, ou um grupo de indivíduos, conclui que bastam alguns brindes para que tudo seja esquecido? Qual é a visão da marca Malwee com relação a sua consumidora?
A mim não basta contratar algumas crianças negras para aparecerem nos comerciais, eu quero mais, quero o mesmo tratamento, quero respeito por onde passo e quero isto para meu filho também.
Eu era compradora Malwee, já não sou mais. Nem eu, nem grande parte da família que já está ciente do ocorrido.
Mas talvez você seja do grupo dos que bradam: “Ah, mas vocês veem racismo em tudo!” A você eu só posso afirmar que vejo racismo onde ele está representado, onde eu consigo me enxergar diante da dor ou do constrangimento a que a pessoa foi exposta sem a menor necessidade, se é em tudo é mais um motivo para que a gente fale muito sobre o assunto, aponte onde ele ocorre e batalhe para que situações como a deste episódio triste não ocorram mais. E se ainda assim você não se convenceu da necessidade de abrir os olhos para o que é aceitável e o que não é, sobre o que é respeito independente de etnia, tom de pele, nacionalidade, instrução, volte lá no primeiro paragrafo e faça o exercício de imaginar você nesta situação.
Quando nós, mães, pais, tios, tias, madrinhas, padrinhos vamos às compras, não raro avaliamos se o material das roupinhas é bom, se é puro algodão, se não foi costurado por crianças chinesas, por outras mães bolivianas em situação de semiescravidão, se agrediu o meio ambiente no processo de tingimento, além das perguntas corriqueiras como causa alergia ou dá a mobilidade necessária, cada um tem seu critério de avaliação para aquisição de qualquer produto embora a indústria aparentemente insista que basta ser bonitinho e com um comercial apelativo que nosso cérebro será lavado e compraremos como zumbis. Eu não gosto de ter minha inteligência subestimada. Além de avaliar uma série de critérios na hora das minhas compras, eu levo em consideração o modo como uma marca trata seu consumidor e no (DES)caso da Malwee, além de vendedoras despreparadas e racistas, sua assessoria é, no mínimo, desrespeitosa e não deu nem a esta família nem aos seus tantos consumidores uma resposta digna (a não ser de lamento).
Malwee na minha casa nunca mais. Este ABRAÇO eu estou dispensando.
malweeprot
Imagem: Jonathan Camuzo

25 agosto, 2013

Negro é Lindo

Por Maria Rita Casagrande para as Blogueiras Negras

Há umas duas semanas recebi da escola de meu filho um documento de atualização cadastral. Qual não foi minha surpresa: para a escola, ele mora na mesma residência que ambos os pais (que não residem juntos desde que a criança tem 1 ano) e ele é BRANCO. A primeira reação é a de imaginar que alguém cometeu um erro. Talvez fosse mais fácil replicar um endereço apenas, ao invés da tediosa tarefa que é preencher um endereço para a mãe e outro para o pai. Mas como explicar para mim e para a criança que a cor dele não foi notada?
Ele me entregou a ficha já fazendo a observação – Tá errado, eu não sou branco!
O negro, ao longo da história, foi tão apontado como feio, inferior, burro, que isto ainda traz consequências nocivas para nós negros e permite que “erros” como este sejam cometidos na intensão de ser agradável. Na ficha consta BRANCO porque evitaria que nós , a família (mãe negra, pai branco), nos ofendêssemos com o NEGRO estampado no papel, o preconceito interiorizado de quem enxerga desvantagens em ser negro, que faz as associações como cabelo ruim e o asqueroso “black service” e o “afinal quem quer ser negro?”.
Foto de Pink Sherbet, em CC
Foto de Pink Sherbet, em CC
Já se passaram muitos anos desde o “Black is Beautiful” , movimento cultural iniciado por negros nos Estados Unidos na década de 60, que mais tarde se espalhou entre negros do mundo todo. O movimento tinha como meta eliminar a noção de que as características naturais dos negros, como cor da pele, traços faciais e cabelo são inerentemente feios. O movimento também incentivou homens e mulheres a pararem de tentar eliminar traços identificados como africanos, como não endireitar o cabelo ou tentar clarear sua pele.
O esforço do movimento era para contrariar a ideia típica prevalecente na cultura americana (não apenas na americana, compartilhamos desta mesma ideia aqui no Brasil) de que negros são menos atraentes ou desejáveis do que os brancos, tendo em vista que uma ideia negativa a respeito da negritude é altamente prejudicial para a psiquê dos afrodescendentes.
Como não estamos mais nos revolucionários anos 60 e o mundo atual é multicultural, uma pluralidade de heranças, classes sociais, credos e cores e nossos filhos estudam em salas coloridas como um arco íris de pessoas e convivem com crianças de lugares diferentes do globo terrestre, não há a menor necessidade de enfatizar o orgulho negro ainda mais, certo? ERRADO!
Apesar de terem oportunidades diferentes de seus antepassados, as crianças afrodescendentes ainda possuem dificuldade de estar orgulhosos de sua herança racial. Como tão bem explicitado na repetição doteste das bonecas da década de 40, no qual os psicólogos negros Kenneth e Mamie Clark mostram uma boneca branca e uma negra para que crianças relacionem aspectos positivos e negativos a elas. A boneca branca acaba por ser a escolhida pelas crianças pelas características positivas enquanto a negra era preterida. O mesmo teste foi feito em 2006 e o resultado foi semelhante.
Diante de situações como estas ou de pedidos como “eu quero uma franja”, “eu quero ser branco”, “porque não sou igual a minha coleguinha” ou “porque me chamam de preto se é cor de lápis”, mesmo a mais preparada das mães ou pais paralisa. Paralisamos porque passamos por situações semelhantes, paralisamos porque doeu em nós e pode doer neles.
De acordo com uma pesquisa publicada no Journal of Child Development, estimular o interesse de uma criança negra a aprender sobre sua raça faz mais do que lhes dar impulso pessoal, também auxilia academicamente esta criança. O estudo foi conduzido por Ming-Te Wang e James P. Huguley da Universidade de Pittsburg e da Universidade de Harvard, respectivamente, e constatou que “a socialização racial”, ensinar as crianças sobre a sua cultura e envolvê-los em atividades que promovam o orgulho racial e conexão ajuda a compensar a discriminação racial e os preconceitos que as crianças enfrentam pelo mundo exterior.
O ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira, a luta dos negros no Brasil, A cultura Negra Brasileira e O Negro na formação da sociedade nacional é obrigatório por lei desde 2003 em todas as escola do país. Mas seria isto o bastante para ensinarmos aos nossos filhos o quanto eles são lindos? Será isto que fará com que nosso filho ame a cor da sua pele? Este ensino não é aplicado para crianças na primeira infância (de 0 a 6 anos) , período decisivo na formação da personalidade, do caráter e do modo de agir do adolescente e do adulto.
Precisamos criar o hábito de elogiar nossos filhos. Edificar uma criança é como vestir-lhe uma armadura, tão forte que elemento nenhum da sociedade poderá feri-lo diante de suas certezas de que Negro é Lindo. Quantos de nós, adultos negros, sentimos a dificuldade de aceitar e acreditar em um elogio sincero. Não conseguimos nos acostumar com o “você é lind@”, “você é muito inteligente”. Isso não nos foi repetido com o furor necessário para que ficasse claro que podemos ser, sim, lind@s, inteligentes, poderos@s.

“Você é gentil. Você é inteligente. Você é importante” – The Help
Alguns métodos que eu adotei dentro de casa e acredito serem válidos:
Conte histórias: conte você mesmo a história dos negros pelo mundo, as coisas incríveis que nossos antepassados já fizeram, nossas lutas, conquistas , dificuldades e vitórias.
Brinquedos: hoje já conseguimos encontrar bonecas negras com maior facilidade (não com a mesma oferta e em todos os locais). É importante discutir a singularidade e a beleza de cada uma destas bonecas. Servirá de alicerce para a construção da autoestima desta menina ou menino (sim, ensine também que homens podem cuidar de um outro ser humano).
Ligue os pontos: situe seu filh@ com relação aos laços culturais que nos ligam ao nosso lar ancestral – a África. Seja o penteado trançado, a comida que vai pra nossa mesa, no ritmo da música que a gente escuta. Pontue que esta é nossa herança, nosso legado.
Incentive a aprendizagem multicultural: existem negros no mundo inteiro. A história dos negros americanos é diferente da dos negros caribenhos. Ensine a história dos povos indígenas, asiáticos, europeus. Crianças são curiosas e o conhecimento não só aumenta a autoestima como ensina o respeito.
E este último é um exercício para você que me lê. Corre no espelho e repete agora para não esquecer nunca mais: Você é gentil. Você é inteligente. Você é importante. A autoestima dos pais reflete diretamente na da criança. Tenha orgulho e acredite que você é capaz de ensinar e seu filh@ capaz de aprender!

25 julho, 2013

SOBRE SER LÉSBICA E NEGRA

Por Maria Rita Casagrande para o Blogueiras Negras
Dentro da comunidade lésbica eu sou Negra, e dentro da comunidade Negra eu sou lésbica. Qualquer ataque contra pessoas Negras é uma questão lésbica e gay, porque eu e milhares de outras mulheres Negras somos parte da comunidade lésbica. Qualquer ataque contra lésbicas e gays é uma questão sobre direitos dos negros, porque milhares de lésbicas são Negras e milhares de homens gays são Negros. Não existe uma hierarquia de opressão.
Audre Lorde, There is No Hierarchy of Oppression
Dia desses me fizeram uma pergunta: O que você é primeiro? Lésbica ou Negra?
Como se fosse realmente necessário escolher um “lado” para lutar por meus direitos ou me identificar, ou como se eu não fosse invisível em ambos os casos.
Mas se você me pergunta com qual comunidade eu me identifico, minha resposta seria a reprodução das palavras de Audre Lorde “Dentro da comunidade lésbica eu sou Negra, e dentro da comunidade Negra eu sou lésbica.”
O único ponto que me incomoda é termos uma comunidade lésbica que luta contra a invisibilidade mas consegue invisibilizar as lésbicas negras com tamanha força. Na minha singela opinião é algo que não aceito pelo simples fato de não entender como alguém pode lutar por qualquer direito tirando o direito de outros?
Especificamente entre lésbicas que é nosso assunto aqui percebo uma falta visibilidade, reconhecimento, material informativo, sobre lésbicas negras.
Quantas vezes você que me lê agora entrou em um site ou uma fã page para curtir a imagem de uma lésbica negra? Quantas lésbicas negras você conhece? Quantas personagens lésbicas negras lhe foram apresentadas na sua série preferida (Bette Potter- the L word- embora afrodescendente não representa a realidade das mulheres negras, talvez sua irmã Kit que não era lésbica).
Hoje 25 de julho é o Dia da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha, data criada 1992, durante o I Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-caribenhas, em Santo Domingos, República Dominicana. Estipulou-se que este dia seria o marco internacional da luta e da resistência da mulher negra. Desde então, sociedade civil e governo têm atuado para consolidar e dar visibilidade a esta data, tendo em conta a condição de opressão de gênero e racial/étnica em que vivem estas mulheres, explícita em muitas situações cotidianas.
Em 2010 me entendi como lésbica, e minha primeira atitude com relação a este meu entendimento foi me informar a respeito de um mundo que até aquele momento não era o meu. Busquei livros, informações na internet, pessoas, referências, imagens e em nada que eu encontrei me permitiu algum tipo de identificação. Eu não sou a lésbica novinha vestida de Shane, não sou a moça vegetariana que anda com os cabelos esvoaçantes na bicicleta e nem aquele casal simpático com o cabelo de uma trançado no da outra mostrando uma união infinita. Ficou na época e existe até hoje uma inquietude sobre porque tantos estereótipos em meio a uma comunidade já tão estereotipada?
Encontrei no meio das mulheres lésbicas os mesmos clichês de uma comunidade que vê a mulher negra como um objeto, um bundão e um peitão para sexo 24 horas por dia, encontrei meninas com “nojo” de mulheres negras, encontrei piadas sobre “cabelos duros”.
Você que me lê agora é assim também? A cor da nossa pele te incomoda? Se apaixonar por uma mulher negra está fora dos seus “padrões”? Qual é o seu estereótipo de mulher negra? Você já experimentou digitar no Google “lésbicas famosa” e comparar com o que acontece quando você digita ” Lésbicas Negras famosas”, faça este teste. Muitas vezes preferimos varrer nossos preconceitos para debaixo do tapete quando na verdade deveríamos tirá-los do cantinho seguro e vencê-lo.
Hoje, um dia tão importante para mulheres negras eu proponho a todas as mulheres negras que leem o blog, que se apresentem, se assumam não apenas lésbicas mas negras e deixo um convite para que possamos debater esta questão aqui site. Deixo a pergunta “O que é ser lésbica e negra? Quais nossos maiores desafios?”
Eu tenho orgulho da mulher que eu sou, negra, lésbica e apesar dos inúmeros desafios e de todo o preconceito  e nada vai me fazer abrir mão dos espaços que eu conquistei, das pessoas que eu cativei e do direito a ter direitos e por eles lutar como tantas outras mulheres negras.

Uma forcinha para o Google

E só para ajudar na questão do Google, algumas lésbicas ( e Bissexuais)  negras famosas e lindas e que venham novas referencias sempre ♥

Wanda Sykes 

Wanda Sykes é uma atriz e comediante stand-up estadunidense. É conhecida por suas observações cômicas afiadas sobre eventos atuais, sobre as diferenças entre os sexos e as raças, e a condição humana.

Tracy Chapman

Tracy Chapman é uma cantora de folk, blues e soul norte-americana, vencedora por diversas vezes do Grammy Awards, tornada mundialmente famosa por suas canções “Fast Car”, “Baby Can I Hold You” e “Give Me One Reason”.
Não sabia que ela cantava Baby Can I Hold You né… calcinhas caindo em 3, 2, 1 

Pepê e Neném

Pepê e Neném, gêmeas e que fizeram sucesso no cenário musical no fim dos anos 1990, se assumiram homossexuais em uma entrevista no programa De Frente com Gabi no ano passado.

Preta Gil

Preta Maria Gadelha Gil Moreira, é uma cantora, atriz e apresentadora, madrinha, rainha, hors concours nas Paradas Gay. Bissexual assumida tem entre suas musicas declarações como “Menina e menino, pego em estéreo” (para noooossa alegria)

Queen Latifah

Queen Latifah é uma cantora, rapper ,atriz norte-americana, vencedora de um prêmio Grammy e de um Globo de Ouro. Também foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por Chicago pelo papel de Mama Morton. Queen Latifah é rosto da Cover Girls para uma parceria no desenvolvimento de maquiagem específica para a pele negra. Negra, linda, gorda, lésbica e bem resolvida, como não amar?

29 junho, 2013

Da Vontade de Viver

A vontade de voltar para o blog veio de um aperto no peito no dia em que tive que ler , junto com a minha mãe , o documento que dizia que meu pai ( que tem mieloma múltiplo) teria de 5 a 8 anos de expectativa de vida. Ela fez as contas, ele estava no 6º ano da doença, e por mais estranho, conturbado e tenso que seja o relacionamento dos dois, os seus olhos se encheram de lagrimas, dava pra cortar a dor com faca naquele minuto, e ali ela morreu um pouquinho. Dali me vei a vontade de registrar a vida de novo, porque não sabia o quanto tudo ia durar e não queria que nada escapasse da memória.

Desde que eu vim morar com ela nosso relacionamento é péssimo. Nunca foi dos melhores, não nos entendemos, a menos que estejamos distantes. É uma pena. Era pra ser diferente. Conforme os anos vão passando eu vou me enganando a cada vez que alguém me faz uma proposta que parece vir do coração. Eu acho que quando as pessoas fazem a proposta até é de coração, mas depois , quando pesa, quando exige, as coisas mudam um pouquinho de figura, vem a cobrança, vem o cansaço e a minha amiga pra toda hora, a dor.

Faz quase 6 meses que decidi viver o que fosse possível viver, me desapegar do comentário alheio e ser feliz nem que fosse na marra. Não há nada mais difícil, maldita hora que está ideia virou fixa. Mas vamos que vamos.

Hoje o pequeno não tão pequeno dançou lindamente, orgulhoso, feliz. O tchau de cima do palco valeu cada um destes 7 anos de amor. Ainda é a sensação do coração batendo fora do peito. Tomara que ele saiba e perceba o quanto é amado.

Entrei num novo ciclo da minha vida na ultima segunda feira, não sei pra onde este caminho vai me levar, mas espero que seja pra longe. Jundiaí, São Carlos, Florianópolis...Que nessa caminhada nada me permita ficar inerte. Hoje quem critica minha intensidade , um dia amou exatamente isto,  e no que eu fui me domar perdi o encanto. Eu quero me permitir resgatar esta luzinha que um dia brilhou em mim, em nós. Fico passando na mente o que vai ser de um reencontro depois de alguns necessários anos...

Como faz com essa minha vontade de mar, como faz com essa vontade de um abraço onde eu sei que é meu lugar?

Agora começa toda uma fase de clichês, lugares comuns. Mas isto sou eu e estou bem comigo, pelo menos por hoje.

16 junho, 2013

Como Começa


Eu escrevi por anos um blog, nele eu me libertava, me descobria, me distraia.  Através do blog eu fiz amigos, conheci amores, mas da noite para o dia parei de escrever pra mim, e passei a escrever para os outros. E o sentido de blog se perdeu. O que antes era um diário virtual , algo particular, anonimo, nem sempre fofo, passou a ser uma pilha das mentiras que eu contava pra mim até que eu acreditasse.  Todo meu esforço era pra agradar, sabe aquilo de "parecer legal". Eu fui legal com todo mundo menos comigo. Me perdi de mim, dos meus sonhos, tomei atitudes levando em conta o que seria interessante para os outros mas não pra mim.
Bom,  estou a exatos 7 anos sem escrever nada que fosse meu. Criei outros blogs, recebi convites para escrever em outros sites, vivi coisas boas e ruins, mas a vontade de manter um blog de novo, um "diário", veio da necessidade de falar e da percepção de que nem todo mundo está disposto a ouvir. E se o faz normalmente vai esquecer. Que os outros esqueçam tudo bem, mas eu não quero esquecer.
Eu não leio mais meu blog antigo e já nem sei se ele existe mais. Não o leio porque não reconheço mais a pessoa que escreveu por anos. Foi uma parte da minha vida, o passado, que está no seu devido lugar.
Independente de blogs e da internet, eu venho me procurando pela vida. Trinta e dois anos atras daquilo que me faria feliz. Com o tempo descobri que não me encaixo no padrão convencional de felicidades, mas coleciono em lista as pequenas e particulares coisinhas que me deixam plena. Sons, cheiros, pessoas, sabores, pequenezas  da vida que a meu ver fazem com que ela valha a pena. O meu tipo de felicidade não é igual ao seu,  eu ainda  não tenho certeza sobre todas as coisas que me fazem feliz, ou se existe alguma coisa realmente grande como um casamento, uma carreira, uma mudança que possa ser um sonho, uma meta de felicidade. Como eu disse antes, eu me perdi de mim e espero me encontrar aqui.
Além do diário vou usar este espaço para reunir o que eu escrevo por ai. Acho que vai ser uma experiência boa.

25 maio, 2013

NÃO FIQUE CALMO. SOBRE RACISMO NA INFÂNCIA.

Por Maria Rita Casagrande para o Blogueiras Negras
Eu moro no mesmo lugar a quase 5 anos, nesses 5 anos uma das minhas vizinhas insiste que eu sou diarista dos demais apartamentos. ao me encontrar nos elevadores me pergunta “Em qual vocês está hoje?Quanto você cobra o dia”. Sempre que este encontro ocorre a resposta é a mesma ” Eu moro aqui, sou do 14″. Ela balança a cabeça incrédula e segue o seu caminho. Hoje por fim ela me orientou a utilizar o elevador de serviço.
Ontem meu filho chegou em casa chateado porque as crianças na sua sala de aula dizem que ele tem a “gengiva preta” e que ele é marrom e horrível. Doeu nele, doeu em mim porque eu passei alguns anos da minha infância ouvindo a mesma coisa, ou sendo excluída de algumas brincadeiras porque “gente preta não brinca”, e eu ouvi isso de pessoas que hoje são minhas “amigas” aqui no facebook e que talvez nem se lembrem de terem feito isto. Bom o fato é: nós perdoamos, mas não esquecemos.
Ainda ecoa na minha mente a “brincadeira” onde meninos separavam meninas para formar uma fazenda (sim , crianças de 6 ou 7 anos). Uma brincadeira horrorosa por si só mas que ficava pior quando todos os dias eu entrava na fila da brincadeira e enquanto separavam iam apontando “cavalo branco, cavalo branco” e na minha vez “cavalo preto não brinca”. Isto aconteceu em 1986, já faz um bom tempo, mas em pleno 2013 algumas brincadeiras não são tão diferentes.
Ainda há aqueles que se mantém na ignorância de acreditar que no Brasil não existe racismo, que essas pessoas possam utilizar meia hora de suas vidas para reavaliar seus conceitos, olhar ao  redor e rever suas atitudes, suas piadas, seu comportamento.
 Se forem pais ou mães que o façam com mais carinho e ensinem seus filhos que somos todos iguais, brancos, negros, indígenas, japoneses, católicos, evangélicos, judeus, hetero, gays, portadores de necessidades especiais, gordos, magros. Nosso sangue é vermelho como o de qualquer outro, nossos sentimentos são os mesmos, e os direitos e deveres são iguais ( mesmo que isto não se cumpra). Que façam aquilo que é tarefa principal e eduquem seus filhos para que eu ou qualquer outra mãe negra não precise usar de argumentos confortadores com o filho explicando para ele que os melhores corredores são negros, os melhores jogadores de basquete são negros, os melhores jogadores de futebol, que o presidente da maior nação e de maior poder é negro, que as musicas mais incríveis são compostas e tocadas por negros, que podemos fazer aquilo que quisermos, sermos quem quisermos nos dedicando e que ser negro não é um defeito, é qualidade e que, no caso do meu filho, por não tratar ou jugar ninguém pela cor da pele, religião ou sexo já é melhor do que muitas pessoas.
Crianças são crueis, é verdade, mas apenas algumas, aquelas que não são instruídas corretamente. Não devemos nos limitar a ensinar as crianças apenas a ler e a escrever, a tocar um instrumento e a desenhar. Precisamos ensinar cidadania, tolerância, respeito. Para quem não conhece essas máximas da convivência humana, ainda está em tempo de abrir a mente e se educar.
Nem eu, nem meu filho, nem mais da metade deste país , “precisa” ser tolerante com a ignorância alheia, infelizmente as pessoas só aprendem com medidas extremas como cadeia. Evite que o próximo “criminoso” como a senhora do elevador , saia de dentro de sua casa. Respeite e ensine o respeito porque isto não é um grande ato, ISTO É O MÍNIMO!
MAIS

22 abril, 2013

ONDE ESTÃO AS ESTILISTAS NEGRAS?

Por Maria Rita Casagrande para as Blogueiras Negras
Onde estão as estilistas negras? Você conhece alguma no grande circuito? Onde estão as estilistas negras brasileiras? Qual sua história, suas referências.
Bom eu estudei moda, e em meio a outras 26 alunas 2 eram negras. Um olhar posterior mais atento me mostraria que não apenas eram 2 alunas negras naquele semestre do curso de moda. Eram duas alunas negras em toda a faculdade.
Entre as matérias, durante os 4 anos, nada se falou sobre cultura étnica, negros na história da moda e fora um workshop nada foi falado sobre moda nacional.
E eu me pergunto, isto não existe, ou esta apenas escondido embaixo de algumas camadas de preconceito e desinteresse? Não conseguirei responder a essas questões sem um longo estudo, mas o que eu posso afirmar é que se há uma escassez de negros no mundo das (os) modelos, isto se torna ainda maior no mundo dos desenvolvedores de moda e tendências.
Mas, embora afastados da grande mídia, estamos presentes e fazemos bonito.
O papel da mulher negra no design de moda data de tanto tempo atrás, desde civilizações primitivas.  Hoje muitos designers se inspiram na África para desenvolver seus projetos, existe uma ligação inquebrável das raízes africanas com um ofício tão antigo e atual ao mesmo tempo.
Além do clichê “África”, onde estamos na história do design de moda e da costura?
As fotografias mais antigas de povos africanos mostram que eles tinham um forte senso de moda e um olho afiado para design de peças, ainda hoje em muitas tribos africanas, a moda é amplamente variada e significativa para a sociedade.  Diferentes tribos podem se distinguir facilmente por seus trajes, assim como com a ocupação de uma pessoa, sua idade e status social.  Na África antiga e na atual África Tribal itens de vestuário tem ainda mais significado do que no mundo ocidental, onde a moda em sua maior parte, hoje, é uma questão de status, escolha e diversão, em vez de ordem, etiqueta, espiritualidade e simbolismo.
África antiga
O traje da civilização Africana antiga era tão variado como na África de hoje. Os trajes incluem roupas vibrantes e ricamente tingidas, peças longas, penas, peles de animais, joias de pedras preciosas e itens naturais, como madeiras e sementes. Tradicionalmente, eram as mulheres da aldeia que produziam as peças tingindo, costurando e estilizando.  No entanto, a tecelagem era uma tarefa unissex.
Comercio de Escravos
A maioria dos africanos que foram capturados e levados a bordo de navios negreiros para o Caribe e as Américas como escravos foram trazidos em sua maioria completamente nus.  As mulheres passaram então a fiar tecidos caseiros pra seu vestuário, as crianças acabaram por ajudar com a fiação de algodão e lã. Com o reconhecimento destas habilidades femininas, as mulheres logo receberam instrumentos de costura e moldes entregues pelos senhores de escravos para que pudessem fazer roupas também para os seus “proprietários”. Durante o século 18 mulheres escravas Africano-americanas, apesar de terem um papel de destaque como costureiras, não tiveram influência sobre o design das roupas feitas para os seus “proprietários”, elas seguiriam os designs contemporâneos e o jeito europeu de se vestir, isso também nas suas próprias roupas.
A partir do momento em que os negros africanos da América começaram a ganhar sua liberdade, talentosas designers afro-americanas tornaram suas habilidades uma profissão. Até o início do século 19 as mulheres negras não eram reconhecidas como designers de moda no sentido pleno da criação de projetos pessoais. Graças a Elizabeth Keckley, Francis Criss, Ann Lowe e Zelda Wynn Valdes, as mulheres Afro-americanas começaram a ganhar reconhecimento por sua habilidade como designers de moda.
Elizabeth Keckley
Elizabeth Keckley começou seu próprio negócio de costura em 1860, em Baltimore, e mais tarde, em Washington, pouco depois de comprar sua liberdade da escravidão e fugir de duros abusos físicos e sexuais sofridos nas mãos dos seus senhores de escravos (a família Burwell). Ela passou a sustentar a si e a seu filho com o negócio de costura e design.
Entre os seus clientes mais proeminentes estavam Robert E. Lee, Varina Davis, esposa de Jefferson Davis, e, talvez mais significativamente, a primeira-dama Mary Todd Lincoln. Elizabeth Keckley tornou-se muito mais do que uma costureira para a primeira-dama, ela também foi, nas palavras de Mary Lincoln “sua melhor amiga”. Elizabeth Keckley fez uma verdadeira conquista ao passar de escrava para uma costureira de destaque, mulher de negócios e amiga da primeira dama e ainda trabalhou para a abolição da escravatura através de seus clientes brancos bem relacionados.
Francis Criss
Nascida na Virginia, Francis Criss ficou conhecida em Richmond como costureira talentosa. Em 1915, ela se mudou para Nova York, onde projetou e criou roupas para estrelas da Broadway como atriz Gloria Swanson. Sua personalidade era espirituosa extravagante e livre, a sua casa em Nova York foi um centro de influência Afro-Americana.
Ann Lowe
Ann Lowe nasceu no Alabama em 1899 e mudou-se para Nova York com 16 anos. Frequentou a escola de design e abriu uma loja na Madison Avenue. Seus clientes incluíam membros da Vanderbilt, Roosevelt, e as famílias Rockefeller. Ela fez mais de 1.000 vestidos por ano para clientes da sociedade e vendeu seus projetos para Henri Bendel, Neiman Marcus e I. Magnin. Em 1953, Ann Lowe desenhou os vestidos para uma festa inteira, incluindo a mãe da noiva e o vestido de noiva. Tratava-se do casamento de Jacqueline Bouvier e de John F. Kennedy.
Zelda Wynn Valdes
Zelda Wynn Valdes abriu sua própria loja na Broadway, em Nova York, em 1948. Ela era conhecida por seus tomara que caia sensuais e contava entre seus clientes com muitas das mulheres negras notáveis ​​da época, incluindo Dorothy Dandridge, Josephine Baker, Marian Anderson, Ella Fitzgerald e Gladys Knight. Wynn começou cortando seus moldes em papel de jornal, estudando costura com sua avó e trabalhando na alfaiataria de seu tio. Pouco conhecida para muitos, sua obra ainda chamou a atenção de Hugh Hefner, que solicitou a ela para desenhar os figurinos originais e mais popularmente conhecidos como as coelhinhos da Playboy. Ela também ajudou a fundar a Associação Nacional de Designers de Moda e Acessório, uma organização de designers negros.
E hoje? Como as coisas estão? Não mudou muito, não dominamos a indústria da moda, porém existem algumas estilistas americanas que vale a pena conhecer.
Tracy Reese
Os projetos de Tracy Reese são notáveis ​​por sua feminilidade e estilo retro, tecidos brilhantes, cores vibrantes, padrões gráficos elaborados, e um uso lúdico da boemia. Com uma marca homônima que inclui variedades, que vão de casa a sapatos e meias, a marca conquistou reconhecimento em muitas categorias. Tracy Reese tem sua linha de vestuário e moda casa comercializada por grandes redes varejistas como Bloomingdale, Bergdorf Goodman, Neiman Marcus, Anthropologie, Modcloth e Nordstrom. Graças à primeira-dama Michelle Obama seus projetos têm recebido atenção nacional nos últimos tempos.
Monif Clarke
Premiada como “Melhor designer de moda Plus Size” pela Full Figure Fashion Week, “Melhor loja de roupas Plus Size” pela City Search, “Melhor loja Plus Size de Traje a Rigor” pela Time Out New York e da revista Essence ‘s “Os líderes da nova escola”, Monif C foi criada em 2005 pela parceria entre mãe e filha, Elaine e Monif Clarke, para reafirmar o desejo de cada mulher de ter uma vida inspirada e repleta de luxo e puro sexy appeal. Cores adoráveis, estampas e detalhes vintage surgiram a partir de verões gasto em Barbados visitando sua família.
Hoje, como uma mulher plus size, Monif compreende a necessidade de uma nova perspectiva no mercado plus size. Monif C. tem sido destaque na Fox Business, NBC Today Show, ABC News, Barbara Walters ‘the View, The Washington Post, Latina, New York Business Crain, Essence, Glamour, TLC’ s What Not to Wear, Seventeen Magazine , Ebony, Jet e muitos mais. A coleção Monif C. é essencialmente um guarda-roupa para uma mulher jovem, contemporânea, sexy e plus size.
Laura Smalls
A primeira-dama Michelle Obama fez Laura Smalls virar uma sensação. Apesar de o pico durante a noite em sua marca, devido à atenção nacional, Smalls não é novidade para a indústria da moda. Em 1976 ela se formou na Parsons School of Design, prontamente vendeu uma pequena coleção de primavera para Bloomingdale e Henri Bendel – e depois…nada. Na temporada que se seguiu, a Bloomingdale optou por não comprar sua coleção subsequente, e um novo comprador tinha substituído o seu contrato na Bendel. “Eu não poderia mesmo obter manter este compromisso”, Smalls disse o Huffington Post. Ironicamente, o ano em que comemoramos a eleição do primeiro presidente negro era o mesmo ano em que ela começou a desenhar de novo, e não demorou muito para que a primeira-dama Michelle Obama a descobrisse e adicionasse Smalls à lista de designers americanos que frequentemente usa.
Recentemente assisti ao Project Runaway e ao Project Runaway all stars. No programa estilistas iniciantes tem suas peças avaliadas por uma bancada formada por Heidi Klum, Michael Kors e Nina Garcia (vogue) em duas temporadas uma excelente estilista negra chamada Korto ficou com o 2º lugar. Nem eu nem ela entendemos porque com criações belíssimas e na minha opinião perfeitas, Korto não ganhou nas duas edições. Será porque a moça curvilínea de black power não tinha o padrão queridinha da américa? Será que suas estampas eram demais para o mercado americano? Não sei.
A história da indústria da moda está cheia de importantes contribuições criativas e talentosas de estilistas negras. As mulheres negras certamente tem uma contribuição fundamental para o crescimento da indústria da moda e à elegância do guarda-roupas das mulheres que remonta à escravidão e vem desde a antiga África. Nossa presença na indústria da moda de hoje é consideravelmente baixa, como modelos e principalmente como criadores. No entanto, podemos mudar isso, garantindo que as estilistas negras aqui no Brasil também recebam nosso apoio.
Mas como apoiar estilistas negras se mal às conhecemos?  Confesso que não encontrei referências sobre estilistas negras no Brasil (não entendo como é possível, enfim…), mas acredito que elas existem e com um pouquinho de sorte a gente descobre gente talentosa para escrever uma nova página na nossa história.